domingo, 31 de março de 2013

Guaíra – Jovem indígena de 18 anos comete suicídio.

Guaíra – Jovem indígena de 18 anos comete suicídio; ele integrava a aldeia Tekoha Mirim

Na noite de ontem (27), por volta das 20 horas, o jovem Sabino Rivarola, de 18 anos, cometeu suicídio por enforcamento na aldeia Tekoha Mirim, no município de Guaíra/PR. A situação extrema de miséria e pobreza em que vivem os índios na região oeste do Paraná, bem como a falta de perspectiva para o futuro de jovens e adolescentes levam muitos deles a cometerem atos dessa natureza.
Sabino vivia junto de sua mãe e sua avó, além de quatro irmãos mais novos em aldeia indígena localizada nas imediações da “estrada da faixinha”, próximo ao lixão municipal de Guaíra/PR. O jovem cursava o terceiro ano do ensino médio e pretendia tornar-se agente comunitário de saúde para ajudar sua família, que atualmente não possui nenhuma fonte de renda e depende de programas sociais do governo federal.
Jovens indígenas na aldeia Tekoha Mirim, em Guaíra/PR
Jovens indígenas na aldeia Tekoha Mirim, em Guaíra/PR
Nos últimos anos foram registrados cinco casos de suicídio de indígenas por enforcamento no município de Guaíra, além de inúmeras tentativas por envenenamento, a maior parte dos casos de pessoas entre 15 e 30 anos. Os Guarani são de longe a etnia indígena com os maiores índices de suicídio no país, tendo sido registrados 863 casos entre 2000 e 2011, sendo que estes números seguramente pode se estender a mais de 1000 mortos por enforcamento.
Nos últimos meses, o movimento de oposição à presença indígena em Guaíra tem aumentado extremamente de proporção, por vezes incitando o preconceito étnico-racial e disseminando informações distorcidas para mobilizar a população contra os índios. Segundo informações das lideranças, todos os índios que trabalhavam regularmente no município foram demitidos e existe um pacto da iniciativa privada para não oferecer emprego a pessoas de origem indígena.
Atualmente existem oito aldeias indígenas Avá-Guarani no município de Guaíra e cinco em Terra Roxa, que totalizam cerca de 1800 pessoas, sendo a sua maioria formada por crianças e adolescentes. A maior parte dos adultos atualmente se encontra desempregado e os jovens tem poucas perspectivas para conseguirem uma vida com maior dignidade. Sem o acesso a terra os índios tem dificuldades para prosseguir com seu modo de vida tradicional e, com a rejeição e o preconceito enfrentados na cidade, eles tampouco conseguem se adaptar a vida urbana, que os afasta de sua cultura, costumes e tradições.
indio-suicidio
“Ele se matou porque era muita dificuldade, muito sofrimento. A vida do índio é muito difícil”, afirma Arnaldo Dias, cacique da aldeia Tekoha Mirim. Arnaldo veio há cerca de seis anos da Terra Indígena Jaguapiré, localizada no município de Tacuru/MS. Arnaldo veio para viver junto de seus pais, que nasceram na região de Guaíra em meados da década de 1940.
O sepultamento do jovem Sabino Rivarola será realizado amanhã, na própria aldeia, com a realização de cantos e danças de oração, de acordo com os costumes indígenas.
Fonte: Noticia publicada pelo site trabalhoindigenista.org.br

sexta-feira, 8 de março de 2013

Comitê vai intermediar relação entre produtores rurais e indígenas

Autoridades municipais, estaduais e federais participaram sexta-feira (25), no Paço Municipal, de uma reunião com lideranças indígenas dos municípios de Guaíra e Terra Roxa. O prefeito de Guaíra Fabian Vendruscolo aproveitou a oportunidade para anunciar a criação do Gabinete de Gerenciamento de Crises, um comitê especial que deverá intermediar a relação entre indígenas e produtores rurais na recente tensão promovida por uma rediscussão fundiária.
Nos últimos anos, houve um aumento considerável da presença indígena na região e a consequente criação de novos aldeamentos tem sido alvo de preocupação e críticas por parte dos produtores rurais e boa parte da sociedade, que temem pela demarcação de uma grande área – o que poderá afetá-los economicamente. “Nossa intenção é intermediar uma relação que está pendendo para o conflito. Temos que garantir que os direitos de ambas as partes sejam respeitados e que tudo seja resolvido de forma pacífica. Antes de qualquer coisa, nós precisamos entender melhor essa questão, quais são as políticas públicas vigentes, os critérios e até mesmo os motivos do aumento no fluxo de nossa população indígena”, comentou Fabian.
A opinião é a mesma do prefeito de Terra Roxa, Ivan Reis, que também participou da reunião. “Queremos tomar atitudes que devolvam a tranquilidade e que primem pela harmonia e a busca por uma sociedade igualitária”, disse.
Cadastro
Para o coordenador do Gabinete, o secretário de Planejamento e Coordenação Josemar Ganho, será preciso realizar um cadastro único para diagnosticar e depois propor um plano de ação. Uma comissão multidisciplinar vai percorrer as nove aldeias de Guaíra de 18 de fevereiro até 5 de março com o objetivo de levantar as principais informações.
Reivindicações indígenas
Os caciques das 13 aldeias existentes entre Terra Roxa e Guaíra expuseram suas dificuldades e rebateram algumas acusações. “Queremos o direito de viver segundo os nossos costumes, estamos buscando o nosso espaço para vivermos tranquilos. Nós fomos abandonados pelas políticas públicas. Estamos sendo tratados como estrangeiros, mas não somos estrangeiros”, destacou Ilson Soares, cacique da aldeia Tekohá Yhouy.
Ação
Durante o discurso de encerramento, o prefeito de Guaíra reiterou que irá buscar uma solução para o problema. “Eu e o Ivan vamos fazer a nossa parte, chamar a responsabilidade do estado e da União para tentar dar uma resposta rápida. Penso que as políticas públicas inclusive serão mais fáceis de serem acessadas se as terras que estiverem em questão forem do município, do estado, ou da União. A questão de desapropriação já é mais complexa e carrega junto consigo um desgaste. Acho  o respeito à propriedade privada um princípio interessante”, reiterou.
O indigenista da Funai Diogo de Oliveira elogiou a iniciativa e anunciou que a Funai está mobilizando uma equipe para acompanhar os trabalhos. “Acho que a prefeitura tem se colocado de maneira muito clara a favor de uma solução para o impasse. Isso é uma demonstração de um trabalho participativo. O objetivo da Funai em Guaíra é promover o diálogo e não tratar de regularização fundiária. Inclusive uma equipe técnica está sendo mobilizada em Brasília para ajudar na questão aqui do recadastramento”, informou.
Participaram do encontro os deputados estaduais Elton Welter e Ademir Bier, o ex-prefeito de Nova Laranjeiras, Eugenio Milton Bittencourt, o juiz federal Sócrates Hopka Herrerias, a presidente da Câmara, Tereza Camilo dos Santos, e os líderes indígenas  das aldeias Tekohá Yhouy; Tekohá Marangatu; Tekohá Porã; Tekohá Jevy; Tekohá Karumbey; Tekohá Tatury; Tekohá Guarani; Tekohá Araguajy; Tekohá Nhemboeté; Pohã Renda; Yvyraty Porã e Tajy Poty.