Nota pública contra as ações anti-indígenas no oeste do Estado do Paraná
Inserido por: Administrador em 08/04/2013.
Fonte da notícia: Conselho Indigenista Missionário - Regional Sul
O
Conselho Indigenista Missionário, Regional Sul, vem a público
manifestar apoio e solidariedade aos povos Guarani e Kaingang na região
oeste do estado do Paraná particularmente dos municípios de Guaíra e
Terra Roxa e, ao mesmo tempo, denunciar a intensa campanha contra seus
direitos territoriais, promovida por políticos (deputados, prefeitos e
vereadores), por grandes produtores rurais e pelo governo do estado do
Paraná. Nos últimos meses, esses grupos têm organizado reuniões
públicas e atos declaradamente contrários à demarcação de terras para os
povos indígenas.
As
ofensivas anti-indígenas incluem a distribuição de panfletos, a
publicação regular de matérias em jornais e veiculadas mentiras nas
rádios e TVs locais insuflando a população contra os indígenas. Acusam
as comunidades Guarani e Kaingang de estarem sendo manipuladas para
gradativamente invadirem as terras. Tais chamamentos e notícias visam
promover um levante contra os povos que aguardam há décadas a consecução
dos procedimentos demarcatórios das terras tradicionalmente ocupadas.
O
Cimi chama a atenção para o acirramento das violências contra a
população indígena, que já vem sofrendo discriminações, abusos,
difamações, tentativas de despejo de seus locais atuais de moradia (como
ocorreu, por exemplo, com os acampamentos de Tekoa Porã e Tekoa Y Hovy,
em Guaíra, e com o Tekoa Araguaju, em Terra Roxa), além de outras agressões decorrentes da intolerância e prepotência de quem hoje ocupa as terras em questão.
Hoje
nesta região são 10 aldeias em situação de acampamentos, a maioria
deles em condições sub humanas, alguns formados já na década de 1980
quando foram expulsos de suas terras para formação do lago da
hidrelétrica de Itaipu Internacional. Quase todas as famílias vivem sob
barracos de lona preta entre cercas das fazendas e pequenos capões,
outros na periferia do espaço urbano, outros sob linha de transmissão de
energia, outro ainda sob um monte de pedras de uma pedreira desativada
há muito tempo devido à completa exploração do empreendimento, e um
encontra-se espremida entre a área do Exército e o porto internacional
da cidade somando alguns hectares de capoeira, lama, pedras e nada mais.
A
maior responsabilidade por essa situação de violência é do Governo
Federal que, além de não realizar a demarcação das terras indígenas, vem
assumindo abertamente e sem pudor uma política desenvolvimentista que
converte o meio ambiente, em recursos disponíveis para o capital e seu
total e irrestrito apoio às entidades ligadas ao agronegócio. Os povos
indígenas são vistos como a grande ameaça ao agronegócio e a
concretização da política desenvolvimentista.
Agora,
mais do que nunca, os setores anti-indígenas se articulam e acionam
seus representantes políticos no Executivo e no Legislativo para
assegurar, por um lado, a expansão de seus domínios territoriais e, por
outro, fartos investimentos governamentais para a construção de obras de
infraestrutura para o escoamento da produção.
O
Cimi exige que o Governo Federal intervenha com medidas contundentes e
eficazes para coibir a campanha promovida no oeste do estado do Paraná,
através da qual se incita a população regional contra os povos indígenas
e contra os seus direitos humanos, políticos e étnicos. Exige ainda que
a Funai constitua grupos de trabalho para realizar, com agilidade e
rigor, os estudos de demarcação das terras indígenas na região. Caso o
Governo Federal mantenha uma atitude de descaso e omissão diante da
grave situação vivida pelos povos e comunidades indígenas nos municípios
de Guaíra e Terra Roxa, no Paraná, será diretamente responsabilizado
pelas violências e por qualquer confronto que por ventura venha a
ocorrer.
Chapecó, SC, 07 de abril de 2013.
Conselho Indigenista Missionário - Regional Sul
Nenhum comentário:
Postar um comentário