Meses
antes do desaparecimento do cacique Nísio Gomes, depois de alvejado por
pistoleiros que invadiram o tekoha Guaiviry, no Mato Grosso do Sul, em
18 de novembro do ano passado, ameaças de morte e ataques foram
registrados contra o povo Guarani Kaiowá. O clima de tensão se
intensificou até o trágico ápice de um crime ainda impune. A história
corre o risco de se repetir, mais uma vez, caso as autoridades não se
movimentem.
Otoniel
Ricardo Guarani Kaiowá, do tekoha Te’yikue Caarapó, sul do estado,
passou a sofrer ameaças de morte constantes nos últimos meses. Desde
2009 o indígena é perseguido por chantagens contra a sua vida. Ao todo
constam cinco ameaças de morte e o clima de tensão é crescente. Com
receio de um possível ataque, Otoniel pediu ajuda ao Ministério Público
Federal (MPF) e registrou boletim de ocorrência.
“Um
indígena da nossa aldeia Te’yikue ouviu uma conversa em que duas
pessoas solicitavam o meu assassinato por 30 mil reais. Por eu ser uma
liderança de forte representatividade e pela minha postura de denúncia
sobre a violência sofrida por meu povo, acabo sendo alvo de ataques”,
observa Otoniel.
Violações
de direitos e negligência quanto a demarcação de terras por parte do
governo federal têm contribuído para a violência contra os povos
indígenas no em Mato Grosso
do Sul. Depois da morte de Nisio, a Funai prometeu até o início deste
ano iniciar a publicação dos relatórios de identificação, mas até agora
não cumpriu com nenhum. Em abril deste ano, organizações indígenas e
indigenistas solicitaram à Organização das Nações Unidas (ONU)
intervenção junto ao governo brasileiro frente às graves violações de
direitos humanos envolvendo os povos indígenas no país.
Entre
2003 e 2010, período que abrange o governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, pode-se verificar o agravamento progressivo da violência sofrida
pelos indígenas do Mato Grosso do Sul. Foram 250 mortes, de acordo com
relatório publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), no
final do ano passado. Os pistoleiros e capangas de fazendeiros não se
incomodam nem quando o alvo de cobiça são terras demarcadas, caso do
tekoha Te’yikue, onde vive Otoniel.
“Mesmo
com intimação aos fazendeiros pela polícia, as ameaças não param, pois
chega na hora de depor e eles negam tudo. Fica impune. A sensação é que
eles podem tudo. Não sabemos quem está na nossa procura e isso virou
rotina. O governo do estado também tem incentivado os fazendeiros a se
armarem contra os indígenas”, lamenta Lindomar Terena, também
sistematicamente ameaçado.
Casos
de tráfico de drogas por parte dos ‘brancos’ nas aldeias também foram
constados. “Os brancos usam a comunidade indígena para traficar, mas a
gente combate muito isso”, afirma Otoniel. Um encontro sobre a questão
fundiária na região será realizado entre 1º e 3 de junho. Participam do
encontro o Ministério Público Federal, a Advocacia Geral da União, a
Funai e as comunidades indígenas. Um documento será elaborado com as
conclusões do encontro.
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