Um silêncio profundo invadiu o estádio lotado de índios quando o
pajé Mario Tenório, da etnia tuyuca, entrou balançando a Yaigê –
uma grande lança ritual, usada somente nas festas solenes.
Apenas o som vigoroso das sementes na ponta da lança ecoava pelo local.
Todos sabiam: ele afastava qualquer resquício de malefício ou
impedimentos e abria a passagem para o início da cerimônia de
ordenação e posse do novo bispo católico de São Gabriel da
Cachoeira (AM), Dom Edson Damian.
A cerimônia aconteceu neste domingo (24) e reuniu dezenas de
padres, além de 11 bispos de vários locais do Brasil, entre eles
um venezuelano e um colombiano, e do ex-presidente da CNBB, Dom
Jayme Chemello. Foi a primeira vez que um bispo foi ordenado em
São Gabriel da Cachoeira, um desejo do próprio Dom Edson.
O estádio do colégio São Miguel ficou pequeno para tanta gente –
cerca de 3 mil índios de diversas comunidades do Alto Rio Negro,
que reúne 23 etnias, em uma longa celebração que teve leituras
bíblicas nas línguas tukano e nhengatu. Entre outras autoridades
a celebração reuniu o prefeito indígena de São Gabriel, Pedro
Garcia, da etnia tariano, e vários de seus secretários, também
indígenas, além do general Ivan Carlos Weber Rosas, comandante
da Brigada do Exército de São Gabriel da Cachoeira.
Um dos pontos altos da cerimônia foi quando o indígena Erivaldo
Cruz, um dos diretores da Federação das Organizações Indígenas
do Alto Rio Negro (FOIRN), que representa mais de 60 associações
indígenas e quase 700 comunidades do Alto Rio Negro, colocou um
cocar na cabeça do novo bispo.
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